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Kinomichi e Dança

Por DOMINIQUE DUSZYNSKI


Há relações incontestáveis entre a dança e o Kinomichi.

O Kinomichi tem um aspecto estético: graça e beleza dos movimentos. Mas há mais: flexibilidade, espiral, justeza, equilíbrio, etc. Também não é extraordinário que numerosos dançarinos venham praticar no Centro e que Mestre Noro já tenha trabalhado com dançarinos, à destacar, Jean Guizerix e Wilfride Piollet. Nós demos a palavra a alguns dentre eles. Ao mesmo tempo, reproduzimos com a autorização de Maurice Béjart, um de seus textos, cuja inspiração é próxima da que inspira o Kinomichi.

MAURICE BÉJART, diretor do Balé Béjart Lausanne e coreógrafo.

Há alguns anos, descendo correndo o caminho das cabras que mergulha do ninho das águas de Eze até o Mediterrâneo, que cai do azul do céu ao azul do mar, senti, pouco a pouco, esse “espírito de leveza” invadir ao mesmo tempo meus músculos e o que alguns chamam de alma ou espírito e que se situa não sei onde. “Quando Zaratustra dança, nos diz Nietzsche, seu espírito está em seu dedo”, contradiz esse aforismo que, já na minha extrema juventude, tinha o dom de me revoltar: “Ser burro como seus pés”.

JEAN GUIZERIX, dançarino estrela da Ópera de Paris.

Falar da arte do Mestre Noro e do Kinomichi, é falar da beleza de uma língua desconhecida. Um pouco como quando meu ouvido se deixa ninar com o canto de uma voz estrangeira, aqui meu olho admira o gesto nascido de um pensamento longínquo. Sei muito pouco sobre as correntes energéticas que devem ser regidas pela idéia da espiral, assim como das partes terminais do corpo que devem deixar propagar no ar as ondas, as vibrações dinâmicas saídas dos centros interiores. Eu quero apenas ficar atento à essas noções vitais de relação entre, por exemplo, os quatro elementos e a medida do seu gesto. O Kinomichi não retira a beleza do seu exercício dessa consciência fundamental do movimento?

Mais uma vez eu me posiciono como espectador, amador, no melhor sentido da palavra, de uma técnica do corpo ao mesmo tempo cheia de surpresas e de método, como secreta e aberta em direção a uma forma de dança.

Os seres que usam seus corpos como instrumento de uma arte, isto é, os dançarinos, só têm a ser enriquecidos pela percepção dessas noções de peso, de centro, de ponto de apoio, de circulação de energia, de linhas de força e também desse prazer em desenhar no espaço a poesia desse “caminho que leva à flor da vida”.

Eu fico fascinado pela maestria de Masamichi. Sua habilidade invulnerável gera a confiança e a projeção de seu braço ou de seu olhar é uma lição de sabedoria para mim. Sou agradecido a ele por sua presença.

DOMINIQUE DUSZYNSKI, dançarina e professora de dança.

“A dança é o vínculo entre o céu e a terra. É tudo que podemos recolher da terra para nos mover em direção ao céu. O homem tem a necessidade de se mover, de fazer circular certas energias. Na dança atual perdeu-se o movimento. Frequentemente são somente formas exteriores, nas quais não há mais sensações interiores.

No meu ensino, tento fazer as pessoas moverem. Não trata-se apenas de ocupar o espaço e sim de buscar uma unidade interior, a unidade do corpo em movimento, a fluidez. Para isso, devemos começar do chão para ir em direção ao céu. É um trabalho que começa devagar até alcançar variações dinâmicas. Trata-se de ensinar às pessoas a se liberarem para que isso aconteça sem interferência da razão. É o mais difícil de se ensinar. Não é mais técnica… é além das palavras.

Com o Kinomichi, a perspectiva se transforma. Há coisas que fazemos estando fechados. Por que não fazê-las estando abertos? É uma filosofia. A arte é uma criação. Então, isso deveria ser uma abertura. Mas a abertura não significa qualquer expressão. Na expressão pode haver neurose. A expressão serve então de purgação. Mas então, isso tem um valor universal?

O Kinomichi é para mim um complemento indispensável à dança, ao meu ensino, à minha forma de trabalhar, ao que procuro na dança. O Kinomichi alimenta a minha dança. Às vezes prefiro ter uma aula de Kinomichi antes de um espetáculo do que fazer exercícios de dança. Isso me dá mais abertura, mais contato com o céu e a terra, e me permite entrar muito mais nos meus movimentos, na minha presença.

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